A engenheira Lígia Marta Mackey, 55 anos, ex-aluna da Escola de Engenharia de Piracicaba (EEP), se tornou a primeira mulher eleita para assumir a presidência do Crea-SP, tendo Luis Chorilli Neto, também ex-aluno da EEP, como vice-presidente. Nesta entrevista Lígia revela como a sua vitória nas eleições representa um importante marco na luta pela igualdade de gênero no mercado de trabalho, fala sobre os seus planos à frente da autarquia para o triênio 2024-2026 e como superou um Câncer de Mama em 2020.
Em que ano você estudou na EEP?
De 1988 até 1993.
Qual foi o maior impacto que a EEP, como instituição de ensino, exerceu sobre a sua carreira profissional?
A EEP foi muito importante para a minha formação, sou muito grata ao que vivi. Além dos amigos que fiz, que tenho contato até hoje, a Escola me capacitou e me formou para o que a Engenharia e o mercado de trabalho realmente precisavam. A faculdade foi essencial para a minha formação, me fez enxergar a profissão com clareza, com os melhores professores e método de ensino. Eu tenho muito orgulho em ser engenheira e carregar o nome da instituição. Tenho muito carinho pela EEP.
Você lembra de algum professor marcante ou fato pitoresco durante o período em que estudou na EEP?
Todos os professores tiveram grande importância na minha vida, não só profissional, mas também pessoal, sendo referências para mim. Mas tem alguns professores que marcaram muito, como o Milton Rontani, Antonio Carlos Silveira Coelho, Otávio José Menegali, Ricardo Abe e Salvador Domingos Marth.
Em quase 90 anos é a 1ª vez que uma mulher ocupa o cargo de presidente do Crea-SP. Você obteve 67% dos votos válidos na eleição. O que isso representa na luta pela igualdade de gênero no mercado de trabalho?
O Crea-SP completa 90 anos de história agora em 2024 e eu sou a primeira mulher a assumir esse posto de presidente na autarquia. Com certeza essa é uma vitória para todas as mulheres da área, um resultado concreto de que estamos avançando em direção a uma sociedade com mais equidade de gênero. Quando entrei no mercado, há três décadas, éramos apenas 15 mulheres em uma turma de 120 alunos. Fui a quinta engenheira formada da minha cidade, Rio Claro, e mesmo depois de formar, foi difícil conquistar espaço. Onde eu chegava, era questionada. Precisei ser bastante firme e persistente para conseguir trabalhar. Então é muito simbólico chegar até aqui e considero uma missão abrir caminho para que mais mulheres também cheguem.
Quais são os maiores desafios que você terá pela frente durante o triênio 2024-2026?
Estar à frente do maior conselho profissional da América Latina não é um desafio pequeno, estamos falando de um universo de 350 mil profissionais e 95 mil empresas. Mas, depois de 30 anos de carreira, entre a construção civil, o associativismo e o Sistema Confea/Crea, me sinto pronta para lutar pelas nossas profissões. Além disso, a última gestão foi a mais inovadora da história do Conselho e pretendo seguir nesse caminho, pois os resultados já mostram que é por aí que devemos ir. São diversas as iniciativas, como o CreaLab, o Crea Inova, a rede CreaLab Coworking, os cursos híbridos do Crea-SP Capacita, os desafios do Hackathon e “De olho nas cidades”, o nosso estágio visita e ainda o Clube de Vantagens com opção de cashback e Anuidade Zero, entre muitos outros. Esses programas estão consolidados, são reconhecidos no Brasil todo e tornam o trabalho da área tecnológica mais eficiente. É uma responsabilidade muito grande dar continuidade a eles, mas conto com o apoio de profissionais comprometidos nessa transformação.
Ser a primeira mulher presidente em 90 anos de história me traz ainda o desafio para a minha gestão de abrir caminhos e continuar trabalhando para aumentar a participação feminina na área tecnológica e para que o nosso Sistema seja mais diverso e equitativo. Fortalecendo o Programa Mulher, sei que chegaremos lá.
Você possui uma vasta trajetória na sua carreira profissional. Quais foram os cargos em entidades de classe que já ocupou?
Eu adoro desafios e eles me movem! Se eu entro em um, eu entro para fazer a diferença. Fui presidente da AERC (Associação dos Arquitetos, Engenheiros, Agrônomos de Rio Claro) por dois mandatos, fui coordenadora da UNABAM (União das Associações de Engenharia, Arquitetura e Agronomia da Baixa e Média Mogiana), diretora de Entidades de Classe do Crea-SP e também vice-presidente do Conselho, quando assumi a Presidência por seis meses, em 2022. Agora, sou presidente do Crea-SP. Tenho uma história já dentro do Sistema Confea/Crea e Mútua e prezo pela valorização profissional, além da capacitação e a imersão na área tecnológica. Tenho muito orgulho de ser engenheira e trabalho para que todos os profissionais também tenham.
No seu material de campanha existe a informação que você superou um Câncer de Mama em 2020. Essa superação lhe ajudou a se tornar mais resiliente?
Sim... Eu descobri o Câncer de Mama de maneira repentina e muito no início da doença. Isso reforça a importância de ir ao médico e realizar exames de maneira periódica. Fiz o tratamento e cirurgia muito no começo, bem recente mesmo. Isso, com certeza, foi essencial para a minha cura. Em nenhum momento me ausentei ou parei de trabalhar. Não me afastei, estive presente em todos os compromissos, com todos os cuidados necessários. Isso fez com que eu me motivasse e entendesse o meu valor, além de cuidar ainda mais da minha saúde. No Programa Mulher, do Crea-SP, a saúde é uma preocupação e sempre somamos nas campanhas do Outubro Rosa. Minha experiência pessoal deixa muito claro o quanto isso é importante.
Quais são as perspectivas do mercado de trabalho para quem atua na área de Engenharia Civil? Positivas?
Quando falamos em geração de emprego, o ramo da construção civil foi um dos grandes destaques em 2023, segundo números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). As expectativas são de que o setor continue aquecido em 2024. Análises desses dados mostram que a procura tem sido tanta que, em algumas áreas, já faltam profissionais capacitados para atender a demanda. Neste sentido, a atuação do Crea-SP, que fiscaliza o exercício profissional, se torna ainda mais relevante, pois assim garantimos não só a valorização do profissional habilitado como a segurança da população e de todos os envolvidos nessas obras. O Conselho tem ainda iniciativas que promovem a capacitação contínua de nossos profissionais, via Crea-SP Capacita, o que também se torna ainda mais importante nesses momentos de mercado aquecido. Em 2023, foram mais de 300 horas de treinamento, somando cerca de 60 mil espectadores, entre o on-line e o presencial. Em 2024, seguiremos com esse legado.
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